Quando manipulamos a linguagem em busca de uma
maior expressividade, podemos fazê-la em três níveis: no nível das palavras
(pela escolha dos itens lexicais que compõem os enunciados), no nível da
sintaxe (em que se estabelece a ordem das palavras no enunciado) ou no nível do
pensamento (em que se estabelecem as relações de sentido entre as formas da
língua e seu objeto de referência no mundo). Subdividem-se em figuras
de palavra, figuras de som, figuras de construção e
figuras de pensamento.
figuras de pensamento.
FIGURAS
DE PALAVRA
São aquelas que resultam do emprego de uma
palavra em um contexto que altera sua significação habitual.
1.
Metáfora: quando se constrói uma
metáfora, diz-se que houve uma transferência (a palavra grega “metaphorá”
significa transporte) de um termo para um contexto de significação que não lhe
é próprio. As metáforas baseiam-se, via de regra, em uma relação de
“similaridade” (semelhança) que pressupõe um processo anterior de comparação.
A
metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica
subentendido.
“A inflação é um monstro adormecido à espreita em todas as esquinas.”
2. Metonímia: ocorre quando se opta por utilizar uma palavra em lugar de outra para designar algum objeto (em sentido amplo) que mantém uma relação de “proximidade” com o objeto designado pela palavra substituída.
Há
várias situações em que isso pode ocorrer. Algumas das relações que levam a um
uso metonímico de alguma palavra ou expressão manifestam-se quando se toma:
a)
A parte pelo todo.
“Ele
tem duzentas cabeças de gado em sua fazenda.”
“João
é bom de garfo.”
c)
O autor pela obra.
“Devolva
o Neruda que você me tomou, e nunca leu.” (Chico Buarque e Francis Hime,
“Trocando em miúdos”)
d)
A marca pelo produto.
“Você
me empresta o durex?”
“O pé da mesa estava quebrado.”
4. Antonomásia: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:
“...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles).”
5. Sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
“A
luz crua da madrugada invadia meu quarto.”
FIGURAS DE SOM
6. Aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons
consonantais.
“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”
7. Assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos
idênticos.
“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”
8. Paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos.
“Eu que passo, penso e peço.”
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
9. Elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.
9. Elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.
“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia)
10. Zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes.
Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)
11. Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.
“ E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”
12. Inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”
12. Inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.
“De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.”
13. Silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:
• De gênero
“Vossa Excelência está preocupado.”
• De número
“Os Lusíadas glorificou nossa literatura.”
• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.”
14. Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.
“A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.”
15. Pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.
“E rir meu riso e derramar meu pranto.”
16. Anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
“ Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.”
FIGURAS DE PENSAMENTO
17. Antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.
17. Antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os jardins têm vida e morte.”
18. Ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico.
“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”
19. Eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.
“Ele enriqueceu por meios ilícitos.” (em vez de ele roubou)
20. Hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática.
“Estou morrendo de sede.” (em vez de estou com muita sede)
21. Prosopopéia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.
“O jardim olhava as crianças sem dizer nada.”
22. Gradação: é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)
“Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”
23. Apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!”
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