domingo, 10 de março de 2013

FIGURAS DE LINGUAGEM


Quando manipulamos a linguagem em busca de uma maior expressividade, podemos fazê-la em três níveis: no nível das palavras (pela escolha dos itens lexicais que compõem os enunciados), no nível da sintaxe (em que se estabelece a ordem das palavras no enunciado) ou no nível do pensamento (em que se estabelecem as relações de sentido entre as formas da língua e seu objeto de referência no mundo). Subdividem-se em figuras de palavra, figuras de som, figuras de construção e
figuras de pensamento.

                                    FIGURAS DE PALAVRA

São aquelas que resultam do emprego de uma palavra em um contexto que altera sua significação habitual.

1. Metáfora: quando se constrói uma metáfora, diz-se que houve uma transferência (a palavra grega “metaphorá” significa transporte) de um termo para um contexto de significação que não lhe é próprio. As metáforas baseiam-se, via de regra, em uma relação de “similaridade” (semelhança) que pressupõe um processo anterior de comparação.
A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.

“A inflação é um monstro adormecido à espreita em todas as esquinas.”

2. Metonímia: ocorre quando se opta por utilizar uma palavra em lugar de outra para designar algum objeto (em sentido amplo) que mantém uma relação de “proximidade” com o objeto designado pela palavra substituída.
Há várias situações em que isso pode ocorrer. Algumas das relações que levam a um uso metonímico de alguma palavra ou expressão manifestam-se quando se toma:

a) A parte pelo todo.
“Ele tem duzentas cabeças de gado em sua fazenda.”

b) O continente pelo conteúdo.
“João é bom de garfo.”

c) O autor pela obra.
“Devolva o Neruda que você me tomou, e nunca leu.” (Chico Buarque e Francis Hime, “Trocando em miúdos”)

d) A marca pelo produto.
“Você me empresta o durex?”

3. Catacrese: na falta de uma palavra específica para designar determinado objeto, utiliza-se uma outra a partir de alguma semelhança conceitual. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado.

“O pé da mesa estava quebrado.”

4. Antonomásia: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:

“...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles).”

5. Sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

“A luz crua da madrugada invadia meu quarto.”


                                   FIGURAS DE SOM

6. Aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais.

“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”

7. Assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.

“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”

8. Paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos.

“Eu que passo, penso e peço.”


                                   FIGURAS DE CONSTRUÇÃO

9. Elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.

“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia)


10. Zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes.

Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)


11. Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.

“ E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”

12. Inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.

“De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.”

13. Silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:

• De gênero
“Vossa Excelência está preocupado.”

• De número
“Os Lusíadas glorificou nossa literatura.”

• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.”

14. Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.

“A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.”


15. Pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.

“E rir meu riso e derramar meu pranto.”


16. Anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.

“ Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.”

                                  
                                   FIGURAS DE PENSAMENTO

17. Antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.

“Os jardins têm vida e morte.”


18. Ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico.

“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”


19. Eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.

“Ele enriqueceu por meios ilícitos.” (em vez de ele roubou)


20. Hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática.

“Estou morrendo de sede.” (em vez de estou com muita sede)


21. Prosopopéia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.

“O jardim olhava as crianças sem dizer nada.”


22. Gradação: é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)

“Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”

23. Apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).
“Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!”


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